quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Tabuleiro


texto de Grazzi Yatña e Izabel Xarru





Passe a dama por debaixo da mesa.
Ela tem 64 chances na ascendência e 32 na descendência.
O pó de engodo não trina, se estabelece.




I -

E pela beira, o corpo coagulava?
A noite cobriu o tabuleiro delirante de fendas. Numa passagem de flash.Começou nesses membros a mais que chegaram e já estavam aderidos. Vez que empolava as dobras, de tanto reunir. De duas em duas é que o movimento esvazia o horizonte. Ficaram 20 em cada país. E as casas dividiram-se entre claras e escuras.
II-

O silêncio, por dentro, era de lava. E diziam que ela não podia com a palavra:
'Isso, menina, escreva! que poeta, heim?'.

E ela, centauro de tetas, estranhava o arremesso. As casas pretas tomavam as brancas no deslize. Mas só as brancas podiam começar o jogo.
'Onde livro anunciado, me dissolva a menstruação!'
Então ela abria a porta, a pia ainda pingando papéis, ia se cortando em tirinhas, para enfeitar o natal em família.A irmã oferecia um dinheiro para o brilho e costuravam agulhas no cristal.
III-

Pelo que lhe restava num segundo de memória, observou por mais de cem anos o observado se observando: conceitos pediam sempre companhia; era engraçado criar tantos já desacreditando de todos, tremer um pouco ao saber e ouvir Lou Red mirando o disco.
‘Sabe, a captura é obrigatória

Depois onomatopéia de gorila-imitação avançando sobre si e mais risos trouxas, às vezes uma lágrima por não se lembrar mais como era, antes de soletrar. De cheiro de bosta de camelo era a insígnia.
IV-

Também não acreditava em sorte ou azar, bastava fechar os olhos,"Valei-me vó!" e PuFF!Porquês não lhe interessavam mais que um chiclete grudado no cabelo. "Podem rapar! Vendo perucas, carecas! Mas os pentelhos são meus." Segunda casa de coroação.
V-

Uma vez a febre queimou o primeiro armário. Já estava em paz com a sodomia. Mas a febre vinha raspando o sacro na fagulha, e ela correu.

'Quem é?'

'Sou eu, com as surpresas'

'Tem certeza que vai viver aqui?'
E foi colocando as pedras no móvel e na geladeira, aparas de músculos que saltavam pra dentro da saliva quente.Gargalhava quando, nela, a gorila ameaçava, a sala virando montanha. Subiam e desciam pelas gavetas compondo mosaico e paredes de ruas.

'Tenho certeza sim'.

'Então tá. Entra sem diagonal!'
VI-

Terceiro armário no andar de quarto sem compasso e o quinto fazendo porta no sexto simulacro. Sorri sobrando no ritornello.O segundo armário era tão simples que se construíam exércitos de chaves. Chovia no eixo das dobradiças.

'Sem casa, pode? Vagabunda’!
VII-

Esqueci a porta da cozinha aberta. Daquela vez a gorila derrubou o tabuleiro e engoliu as pedras. O trapezista foi esse homúnculo que babava prosopopéias. Lembro de um incêndio que não acudiu retina. Um vodu gangorrava o alheamento.
EPÍLOGO-
E agora não sei se era dia ou noite. Não é agora que se diz sonhei?
(Ele atravessou o poço, provou que era feliz e gozou no garfo de uma suspeita).

Afinava a carcaça de seda no magarefe e encurtava as ancas pra mijar na boca dele.

'Troco um lote de metáforas por uma vassoura que não voe'

e foi a pé mesmo, morder umbigos em necrotérios.