tag:blogger.com,1999:blog-20471910239240923272024-03-19T02:59:10.923-07:00L'ExcessiveIzabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.comBlogger17125tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-78534586220951641012009-03-31T15:07:00.000-07:002009-04-01T06:36:38.724-07:00Simpatia<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8gSDMFkIPjwKvOHyYHizD2ikm6IAfWDluj5ohto_YAy3kCOVaVI_cadVHNiEEuPqUZzzVOqLlwYywOE1KKXqkDTMzo0c7nvOoWjvi0M5V6vbvfq2udxwbvhYdVFFxy5utmVUGvB49MZlY/s1600-h/gregosatiro.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5319716137399504834" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 222px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8gSDMFkIPjwKvOHyYHizD2ikm6IAfWDluj5ohto_YAy3kCOVaVI_cadVHNiEEuPqUZzzVOqLlwYywOE1KKXqkDTMzo0c7nvOoWjvi0M5V6vbvfq2udxwbvhYdVFFxy5utmVUGvB49MZlY/s320/gregosatiro.jpg" border="0" /></a><br /><div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;">De bacante e sátiro tenho três dons. Mas antes de me vangloriar, é melhor que eu acompanhe a febre do desfecho.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Começando do fim preciso menos de adorno.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">Paciência não me comove, por isso desliguei o telefone.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">O seu braço, se alongasse no túnel de um caracol, enredaria meu pescoço. Não, isso não é amor. É só uma vontade simpática de morrer.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">Claro, não contarei pra ninguém.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">Principalmente neste dia, em que todo mundo é ninguém.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">Agora uso cuspe só pra temperar as uvas.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">Afinal, alguém ainda vai comê-las, assim, fermentadas, numa noite de maldade caprichada.</span><br /></div><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span></div>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-84760780631769172212009-01-22T14:44:00.000-08:002009-03-31T21:19:53.049-07:00Tabuleiro<div align="left"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixncYmxOd5U3tdvWKVsxiBVC5qyS1MMjVjdUDOUwxbidkLoNOU4ACkRi4MBWb_SnAle8hMjaBGTA6FzfD6IykxXuQdWaYiRg7HNNwq7lUks6EHg6p5jrjj6jjYmy5u-dnk_M7cHS0RKoP3/s1600-h/3inveja.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5319526981548725298" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 199px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixncYmxOd5U3tdvWKVsxiBVC5qyS1MMjVjdUDOUwxbidkLoNOU4ACkRi4MBWb_SnAle8hMjaBGTA6FzfD6IykxXuQdWaYiRg7HNNwq7lUks6EHg6p5jrjj6jjYmy5u-dnk_M7cHS0RKoP3/s320/3inveja.jpg" border="0" /></a><br /><div align="right"><em><span style="font-size:78%;">texto de Grazzi Yatña e Izabel Xarru</span></em></div><br /><div align="right"><em><span style="font-size:85%;"></span></em></div><br /><div align="right"></div><br /><div align="right"><br /><br /><em>Passe a dama por debaixo da mesa.<br />Ela tem 64 chances na ascendência e 32 na descendência.<br />O pó de engodo não trina, se estabelece. </em></div><br /><div align="right"><em><br /></div></em><br /><div align="right"></div><br /><div align="left">I -</div><div align="left"><br />E pela beira, o corpo coagulava?<br />A noite cobriu o tabuleiro delirante de fendas. Numa passagem de flash.Começou nesses membros a mais que chegaram e já estavam aderidos. Vez que empolava as dobras, de tanto reunir. De duas em duas é que o movimento esvazia o horizonte. Ficaram 20 em cada país. E as casas dividiram-se entre claras e escuras.</div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left">II-</div></div><div align="left"><br />O silêncio, por dentro, era de lava. E diziam que ela não podia com a palavra:<br />'Isso, menina, escreva! que poeta, heim?'. </div><div align="left"><br /></div><div align="left">E ela, centauro de tetas, estranhava o arremesso. As casas pretas tomavam as brancas no deslize. Mas só as brancas podiam começar o jogo. </div><div align="left"></div><div align="left">'Onde livro anunciado, me dissolva a menstruação!'<br /></div><div align="left">Então ela abria a porta, a pia ainda pingando papéis, ia se cortando em tirinhas, para enfeitar o natal em família.A irmã oferecia um dinheiro para o brilho e costuravam agulhas no cristal.</div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left">III-</div><div align="left"><br />Pelo que lhe restava num segundo de memória, observou por mais de cem anos o observado se observando: conceitos pediam sempre companhia; era engraçado criar tantos já desacreditando de todos, tremer um pouco ao saber e ouvir Lou Red mirando o disco.<br />‘Sabe, a captura é obrigatória</div><div align="left"><br />Depois onomatopéia de gorila-imitação avançando sobre si e mais risos trouxas, às vezes uma lágrima por não se lembrar mais como era, antes de soletrar. De cheiro de bosta de camelo era a insígnia.</div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left">IV-</div><div align="left"><br />Também não acreditava em sorte ou azar, bastava fechar os olhos,"Valei-me vó!" e PuFF!Porquês não lhe interessavam mais que um chiclete grudado no cabelo. "Podem rapar! Vendo perucas, carecas! Mas os pentelhos são meus." Segunda casa de coroação.</div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left">V-</div><div align="left"><br />Uma vez a febre queimou o primeiro armário. Já estava em paz com a sodomia. Mas a febre vinha raspando o sacro na fagulha, e ela correu.</div><div align="left"><br /></div><div align="left">'Quem é?'</div><div align="left"><br /></div><div align="left">'Sou eu, com as surpresas'</div><div align="left"><br /></div><div align="left">'Tem certeza que vai viver aqui?'<br /></div><div align="left">E foi colocando as pedras no móvel e na geladeira, aparas de músculos que saltavam pra dentro da saliva quente.Gargalhava quando, nela, a gorila ameaçava, a sala virando montanha. Subiam e desciam pelas gavetas compondo mosaico e paredes de ruas.</div><div align="left"></div><div align="left"><br /></div><div align="left">'Tenho certeza sim'.</div><div align="left"><br />'Então tá. Entra sem diagonal!'</div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left">VI-</div><div align="left"><br />Terceiro armário no andar de quarto sem compasso e o quinto fazendo porta no sexto simulacro. Sorri sobrando no ritornello.O segundo armário era tão simples que se construíam exércitos de chaves. Chovia no eixo das dobradiças. </div><div align="left"><br /></div><div align="left">'Sem casa, pode? Vagabunda’!</div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left">VII-</div><div align="left"><br />Esqueci a porta da cozinha aberta. Daquela vez a gorila derrubou o tabuleiro e engoliu as pedras. O trapezista foi esse homúnculo que babava prosopopéias. Lembro de um incêndio que não acudiu retina. Um vodu gangorrava o alheamento.</div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left">EPÍLOGO-</div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left">E agora não sei se era dia ou noite. Não é agora que se diz sonhei?</div><div align="left"></div><div align="left">(Ele atravessou o poço, provou que era feliz e gozou no garfo de uma suspeita).</div><div align="left"></div><div align="left"><br /></div><div align="left">Afinava a carcaça de seda no magarefe e encurtava as ancas pra mijar na boca dele.</div><div align="left"></div><div align="left"><br /></div><div align="left">'Troco um lote de metáforas por uma vassoura que não voe' </div><div align="left"><br /></div><div align="left">e foi a pé mesmo, morder umbigos em necrotérios. </div><div align="left"> </div><div align="left"> </div><div align="left"> </div><div align="left"> </div>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-23719724027225554362008-01-23T06:18:00.000-08:002008-01-23T06:28:22.650-08:00A Moça da Torre<span style="font-family:trebuchet ms;">Ai.<br />Esbarraram nas costas do monte de Shizuan<br />e quebraram as pétalas das minhas esculturas.<br />Elas tinham, entre suas carnes, uma floração de nenúfares<br />capaz de desencaminhar os tais ensejos do Dragão.<br />Não eu, Elas.<br />Talvez, por isso, tivesse sobrevivido até aqui</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">(e de rasparem a quilha desses meus medos em uma vênula-coral<br />que não estanca pigmentos vermelhos).<br />Um olhar está todo quebrado<br />e tem ternuras só por vestígios.<br />Algum arqueólogo que salve seu pólen?<br />Algum insecto que doe a finura nas asas?<br />Ah, até a Moça da Torre, com seu perfume-sândalo e uma insônia infinita,<br />morava entre meus decalques. E tão recentemente que meu coração ainda a aninha nos versículos.<br />Nos anos 40, Cortázar, lá da América do sul,<br />desenhou um risco no céu, coisa de fogo.<br />Foi ligar pontos, içou a Moça num tal 2008, sem fagulhas no atrito.<br />(usou palavras que não se repetem, como nessas grutas da China).<br />Chegar perto Dela de carrinho de rolimã?<br />Passar pelas cerejeiras, caminhos leves, folhas secas, pés nus?<br />Perguntar do que gosta, decodificar seus mapas, como se possível?<br />Assim, vão orvalhado de florestas, ainda vive?<br />E voa?</span>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-15964000864596594352008-01-11T08:06:00.000-08:002008-01-11T13:27:51.664-08:00Água-Tinta<span style="font-family:trebuchet ms;"></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Há coisas de Klimt na minha carne.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Cem águas para demolir quinas</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">E uma amora sobre os invernos de brancura</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Aqui o veado espera, como por lá, o som da água corrente</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">e ri com o que caminha, porque, às vezes, as flores estão.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Abre-se um trecho com a primavera inteira nas mãos,</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">mesmo em vidros coloridos, estilhaços.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O doloroso tornado liso na pele do átimo,</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">livre como piscar e tornar-se chuva.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A moça tem olhos pelo corpo,</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">e, dentro, um tiroteio,</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">uma bala encontrada,</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">um pirulito de maçã.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A fala que extrema o silêncio aqui,</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">um pouco mais fino para poder ouvir </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">a pétala inscrita no papel de arroz.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-55390435196162972552008-01-09T00:09:00.000-08:002008-01-09T08:18:12.006-08:00Noite<div align="right"><em><span style="font-family:trebuchet ms;">para Grazzi</span></em></div><em><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></em><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Afundo as mãos na terra pra encontrar barquinhos.</span><br />Andei desandando a febres.<br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Você não estava por lá, mas usei tabletes-senha para dormir dentro de um livro, como as pessoas que foram amadas.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Venham a mim os chocolates, disse Jesus.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Um dia fiquei decantada. Tentei mexer, juro. Mas desciam-me lugares, sedes, o alfabeto.</span> Acho até que escutei alguém uivar.<br /><span style="font-family:trebuchet ms;">É noite, noite, noite mesmo.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">E o único que brilha é seu fogo-fátuo marinho,</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">farejando a carnação da orquídea.</span>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-30692878235970088702008-01-03T19:04:00.000-08:002008-01-09T01:07:40.094-08:00Sombra<span style="font-family:trebuchet ms;">A sombra é quimérica e absurda. Pode esconder-se atrás de uma porta por anos. A esta altura não brinca mais de coelho? Está suspensa pelo abandono. Acabou. Então transforma a despedida em um jogo de ecos, puro cansaço. Fiquei sabendo que dois dias ao lado da sombra e você já se sente ermo. Erminho, que seja. Pode ser que tenha se envergado sobre si, como uma concha, mas é certo que perdeu a memória do mar. Quebrou sua imagem nesse sábado, ao lado do telefone. Tornando-se ou tornando-a fundo, estabeleceu um compasso. A sombra é proposta pelo Outro. Basta: ela adoraria fundir-se para sempre ao chão dos desertos vermelhos. Dentro dela o vento é suave, as águas são frescas.Ouça.</span>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-83801366008682908612007-08-28T16:56:00.000-07:002007-08-28T16:57:55.741-07:00Tita<span style="font-family:trebuchet ms;">O nome dela é Tita.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Passa lá em casa, me chama para um sorvete.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Tomo o sorvete, lambo sua blusa até cansar.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O amor é assim.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Quando ela vai embora, lambo as minhas mãos.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Escrevo sorvete num pedaço de papel.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">E fico olhando pro céu.<br /><br /></span>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-90697055774016873962007-08-28T13:32:00.000-07:002008-01-04T15:16:47.856-08:00Ilha<span style="font-family:trebuchet ms;">O mar deve ser a golfada de um deus.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">No fundo, peixes e ossos. </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">E não era para menos tanto. </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A areia fixa a renda das conchas, distraem-se as horas. </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Foge quem salta, o arqueiro, mesmo a lebre. </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Alguém diria, a aventura era fazer nascer. </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Pouso de penetração, silencioso como o nome do pai, </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">ilha feita com um olhar. </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Arroubo ferindo pedras. </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Adeus </span><span style="font-family:trebuchet ms;">entre os afogados.</span>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-25487389226101266532007-03-30T11:48:00.000-07:002008-01-13T14:40:00.621-08:00Areia<span style="font-family:trebuchet ms;">Sonhei que ia ao seu encontro<br />e você estava sentado entre amigos<br />E quando eu ia te tocar<br />minhas mãos se apagavam<br />como na areia<br /><br />As minhas mãos<br />recebiam o mar<br /><br />E você ria<br />e pedia que eu ficasse<br />e você ria<br />e me chamava para ir a um sítio<br /><br />E você ria<br />e me abraçava<br />e eu tinha que ir embora<br /><br />Os seus cabelos estavam crescidos<br />e havia mais dentes<br />entre os seus dentes<br />Meu cinto já não podia fechar<br /><br />E você ria<br />e me abraçava<br />e eu tinha que ir embora<br />como num crime<br /><br />O sítio era em outro lugar<br />E quando eu ia te tocar<br />minhas mãos se apagavam<br />Movediças<br />no osso dos desejos</span><br /><br /></span>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-91898759518844356312007-03-27T12:26:00.000-07:002008-12-25T16:01:21.641-08:00Divã<div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Humhum...<br />aaah... o divã azul...<br />os livros espalhados, pouca luz, as janelas gradeadas... estamos na sala.<br /><br />Silêncio: tudo é segredo. Corto seus cabelos.<br /><br />Ela me diz: "<em>De Sempre-Livre para OB, eu estava pensando. Assim, quero dizer, me trocou por outra mulher. Contou-me por telefone. Numa ligação a cobrar."</em></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span> </div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">'Ah, um<em> </em>apetrecho de colher sangue pisado...<br />Hum-hum..."<br /><br />Ela chora.<br /><br />Hum-hum...<br /><br /><em>"e depois vamos às fotos: quando cheguei, estavam espalhadas pela sala. Todas as mulheres que conhecia pelo ORKUT, poses bizarras, nuas ou quase, sandálias de salto e o clichê chicotinho/venda nos olhos/mãos-amarradas-na-cama".<br /></em><br />Ela continua: "<em>Um dia desses, saindo do trabalho, chega a mensagem: ‘me ligue, vou morrer, ugh, ugh!</em>’ "<br /><br />O cabelo no chão, os pelinhos incomodando.<br /><br />Senti pena. Falo sério. De mim, claro. É que eu estava ocupada. Pensava em uma mulher que me queria burra, arrogante, comum. E, confesso, não fui capaz. Não por não ser burra, arrogante ou comum. Mas porque estava lembrando ... tempos em que andava de bicicleta em parques cariocas e conhecia o presente. </span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"><br />Ela: "<em>Ofereci um drops de fluoxetina</em>. <em>Afinal, não me custou, minha bolsa estava lotada de contemporaneidades</em>."<br /><br />Hum-hum...<br />eh... perdão, preciso anotar, você disse fluoxetina?<br /><br />Ela: "<em>Sim</em>!"<br /><br />OK. Só para constar.<br /><br />Eu não fazia a Pollyana. Eu não estava entre os ISO, porque meus amigos eram admiráveis, a família ia bem e meu amante era uma delícia. Suponhamos. Nem sabia de tanta gente tosca. Eu não estava prestando atenção.<br /><br />Ela: "<em>Agora estou em outro ponto. Acho engraçado o quanto não me vê</em>".<br /><br />Bom, ponto pra você: nesse caso, autocrítica também não serve pra nada.<br /><br />Estou em transformação. Borboleta, asas picadas, tornando-se lagarta com hirsutismo. Também posso me desfazer disso. Penso em outra pessoa dizendo que um adulto se torna triste e solitário quando, de repente, é surpreendido, e que mais não vai falar porque é segredo. Ela, a escritora querida. Esqueço a lagarta.<br /><br />Troco de absorvente.<br /><br />O relógio sai cuspindo horas e horas. Também me estremece um assovio de morte. A sua e a minha. Pra simplificar, disse que <em>você</em> tinha morrido. Deixei de lado as explicações de fim de jogo. Sonhava por solavancos, por restos, e acordava gemendo, dolorosa.<br /><br />Não te vi. Você estava por aqui?<br /><br />Ora, ficou muito pouco.<br /><br />Hum-hum... </span></div>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-65427779008664193122007-03-27T11:53:00.000-07:002008-01-13T16:39:16.745-08:00Ponto de vista<div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Outro dia surpreendi uma mulher com um trinado de intensidade. Ela não achou que meu signo tinha a ver com o dela, não gostou. Talvez uma questão de grafia, de geografia. Algum desastre em campo semântico? </span></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Intenso, tá. Ela pensava que estava mais para extenso, ex tenso, e ia nisso de cenho franzido, sem peito para bater. Na porta.<br /></span><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Ela falava do raio de um homem. No caso, eu. Já imaginou o raio, o diâmetro daquele ventre que diminuía, como tudo o mais? E ela se perdendo na liberdade que tem qualquer pensamento de ir folheando desvãos. O que é? Armazena poses, gases, ilhas? Nada, nada, acho que são águas de indiferença, e não alcanço. Entre a perversidade e dias contados. Dor.</span></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Um, dois, mil, cem. Dias. Saco. Onde está a corda? Quando vai ser puxada a maldita corda sem data?<br /></span><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Tédio, risada, ausência, ansiedade, festa, desespero, sexo, morte, tudo morando no mesmo barraco, vou lavando no mesmo tanque aquela antigüidade culposa de quem tem, ou supõe que tem imenso tempo a se dispor, amável, enquanto eu, favela de vias estreitas, muros podres, me banho na enseada de excessos que não, não me, não, SIM...! Acha que é fácil? Acha que dá pra se fiar em conclusões?</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Quantas pessoas atiradas naquela cama, bel-prazer, vinil francês, para que fosse experimentada a morte nos olhos (assim) penetrados? É, são meus ensaios, quer me dizer algo sobre isso? Acha que a mágoa é só sua, né, nega? Ou então que sou alguma espécie de super-star literário. Quem sabe?</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Agora tento tocar as extremidades do silêncio como quem toca entranhas de pessoas, e alcança o que mede, indo até os cotovelos, se pudesse entrava com cabeça e mais, ah, cabeça que não me deixa, não pára o que pensa, não cessa, não pensa dentro de você e te alcança o coração, minha querida, não dorme. </span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Prenhe às avessas, espero a grande chaga de tudo, aquela que já faz parte do meu café com bolo de chuva, da ordem dada à empregada em guizo monocórdio, da deusa-filha que me vê, mesmo sem pousar olhar, dos finais de semana quase científicos, das esporas de fazer andar os animais, do eu te amo e eu te coiso, vida, em eu vazio tudo dentro e fora, cava de despedida, no que se evita, à cata de cada vez mais inviáveis conjunções de sentidos para</span></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">abrir, OLHOS<br /></span><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">e, num ponto do todo, ou seja, no inverossímil, como o que há, poeira estelar, em plena noite, luz de gigantes nas rotas do magnético: a filha, estrada inteira e única de reversão, me olha, devolvendo-me as duas palavras - amor e depois. Isso tudo. Enquanto terno. </span></div>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-55894226357939798052007-03-27T11:49:00.000-07:002008-01-13T16:21:37.902-08:00Elas estão aí<div align="left"><span style="font-family:trebuchet ms;">Para você que tem o certificado ABNT NBR ISO 9004 de ser humano excepcionalmente...emocionalmente...<em> (qual seria a palavra? ah, sei, exemplar!!! isso, é isso que vc disse pra mim: exemplar!!!):</em></span></div><em><div align="left"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="left"><br /></em><span style="font-family:trebuchet ms;">Em minha nova casa tem um morcego, que, tal os seus, descansa em ásanas de inversão. Um yogue.Olhando daqui parece um móbile de cocozinho, pois ainda é filhote. </span></div><div align="left"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="left"><span style="font-family:trebuchet ms;">Ele questiona minha bizarrice com ares de limpeza e aponta-me o certificado ISO-ponto final, emoldurado em seu oratório. Beijo sua lingüeta úmida e hostil. Eca. Mais, então.</span></div><div align="left"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="left"><span style="font-family:trebuchet ms;">Observo atentamente seus olhos secos. Sei que lacrimejam ao pensar em questões que o remetem a si. Dono das únicas dores 'respeitáveis', entra em guerra com a diferença e não aceita 'choramingos', nome que escolheu para o que não é espelho.</span></div><div align="left"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="left"><span style="font-family:trebuchet ms;">Fico me esforçando para imaginá-lo inteligente, com todo aquele sangue direto na cabeça. Sabedoria oriental, será que tem? Também não sei se goza de alguma espécie de nirvana ou se é tudo sansara, mesmo.</span></div><div align="left"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Olho o morcego e kundalini me pisca, fazendo beicinho... </span></div><div align="left"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Quando escurece ele procura patas imóveis: era o susto. Pica, suga, injeta seu anestésico e você dá a coçadinha colaborativa. </span></div><div align="left"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="left"><span style="font-family:trebuchet ms;">Pode ser que nada disso esteja acontecendo com você. E sim com um jegue, quem vai saber? Neste caso deve complicar um pouco, dependendo da região escolhida pelo morcego para o ferimento. Jegues não são cheios de dedos, não estavam pensando nisso. Os jegues são preciosidades de deserto.</span></div><div align="left"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">E é cínico o tal rato besta, alado e metido onde não chamaram. Mas não chego a achar seu vôo interessante. Seu julgamento precoce tem um cheiro comum. A não ser pelos gritinhos das moças que ainda estão acordadas, nada é surpreendente. Ele tanto toca no cortinado que acho que isso de radar é balela. </span></div><div align="left"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="left"><span style="font-family:trebuchet ms;">Ele. O enfeite de telhado, de cabeça, de emoções permitidas e proibidas.</span></div><div align="left"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Parece que esse contato infecciona. Vi gente descarnada. E moscas pousando em cima.</span></div><div align="left"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Não olhe agora. Elas estão aí. </span></div>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-60112773748745456572007-03-27T11:43:00.000-07:002008-01-13T16:22:24.607-08:00Escuta<span style="font-family:trebuchet ms;">Toda vez que escuto: 'eu te odeio', tem um sabor novo.<br />Ninguém diz isso assim, quando sente.<br /><br />Ei, é bem pior que num curral!<br /><br />Está na cara?<br />E quando não tem cara, está no corpo?<br />E quando não tem corpo? <em>Hare, hare</em>! Parece daquele jeito da televisão, mais rápido que os olhos, ilegal, tiro secreto, murro subliminar.<br /><br />A imagem resiste, é bem pior que num curral.<br /><br />Não precisa me explicar porquê a menina foi deixada com o pescoço ferido. E manchada de roxo. E se portava como um cachorro, e mordia, e espumava, e porque gritou para a mulher que repetia - 'O sangue de Jesus tem poder!' : <em>'cala a boca, sangue de Jesus é a puta que o pariu, cala a boca, me deixa em paz!</em>'<br /><br />O lugar era pequeno, sabe? Mas tinha muito alimento e boa parte da família estava presa ali, inclusive o irmão de seis anos, apavorado com a hipótese de a mãe decidir tornar-se heroína para nada.<br /><br />E sua cena toda que quer se dizer contemporânea, bordada de celular, de e-mails, de virtuamorfose, só tem serventia pra me lembrar disso.<br /><br />Era um triste como você: decidiu colocar um 38 na têmpora daquela virgem. Ela tinha que pagar o preço dos perversos, da tripa dos desconhecidos, das invasões bárbaras, da inclemência estúpida e repetitiva: <em>ah, deixo rastros rituais, fofa</em>!<br /><br />E o tal de você (ou de um outro, ou de tantos iguais) sentiu ódio porque alguma coisa ali, que tem um cheiro e tanto, é inquebrantável.<br /><br /><em>É? Sal grosso onde, querido? Ah, era mais uma...</em><br /><em></em><br />Antes que sem trincas, que já passei de colagem a partitura, eu, monstro do pictórico, do escandinavo, dos crimes de fogo, das fotos rasgadas, das caixas pretas do inominável, antes, antes de doendo, eu olho você.<br /><br />Eu - principalmente - olho você.<br /><br />Só quebra o que tem ossos, o que tem vidro.<br /><br />E eu morreria antes de você. E eu poderia entregar meu coração para que a criança fosse feliz. E eu seria a carnação da vida se tornando vida, húmus, o que, caríssimo (caro heim?), você não vai mais querer conhecer.<br /><br />Afinal, excessiva. Sorte de quem não fere.<br /><br />Estou na faca que te atravessa, mas sou seu único remédio.<br /><br />Ostensivamente olho.<br /><br />E você não entende porque isso te faz mal.<br /><br />Você odeia.<br /><br />Parte o espelho. Por isso o sangue na ponta dos dedos, aquele que você lavava no hotel de luxo.<br />Reparte meus membros entre os seus e diz que é melhor se afastarem, que sabe o que está dizendo, que trabalha com gente assim e que já basta.<br /><br />Sim, basta.<br /><br />Você me odeia.E me entrega todos os seus medos, e não se dá conta.<br /><br />Quanto a mim, as manchas não saem. Só da sua vista prejudicada. Aquela lógica simplista (agora sua) de que basta que goze, que chupe, que escorra.<br /><br />Estou viva.<br />Adianto: não sou melancólica.<br />Você não pode me matar.<br />Já tentaram antes, como estou dizendo.<br />E a película que adere está indisponível para nós dois.<br /><br />Parece graça?<br /><br />O tempo nos confere outros diagnósticos.<br /></span></span>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-56331687617679004812007-03-27T11:39:00.000-07:002008-01-13T16:22:53.731-08:00Oráculo - a partida<span style="font-family:trebuchet ms;">O esquecimento:<br /><br />1-brilha no olho direito de um gato<br />2-ruína escorrida aos pés de um poste<br />3-medra na coroa arranjada para tempos idos<br /><br /><br /><br />de xadrez<br /><br />- Primeiro movimento - o peão avança duas casas defronte de sua rainha<br /><br />1-a ilha do retorno lateja de barcos<br />2-todos estão lá, embora se impacientem comigo<br />3-a rainha está tão empenhada em obter discórdia que esbarra em seu único espelho, trincando as bordas<br />4-o peão é intuitivo e útil e a rainha não deve subestimar sua audição<br /><br /><br /><br />de barco<br /><br />-Cavuco o mapa enrolado na garrafa, trata-se de uma preciosidade, pois encontro promessas na ossatura do mar: era o redemoinho o que cegava/ a oeste, grutas/ montanhas submersas estão muito próximas/ depois do acasalamento das baleias, virão os meses mais frios<br /><br />-O pescador me leva. O pescador é como uma bússola metálica e seu corpo é percorrido por ventos e arcadas de estrelas. Não diz nada: está completamente tomado pela noite<br /><br /><br /><br />da voz<br /><br />1-a rainha preencheu a cavidade onde mora a voz do pescador com sal<br />2-povos antigos fazem preces esperando o salvador<br /><br /><br /><br />do passado<br /><br />-Existe uma chance de abortar a ilha:<br />o presente está de passagem e é correndo, já ofegante que bato a porta e me deito em sua pele quente e acolhedora (ou nem tanto)<br /><br />1-chove a cântaros sobre a palavra adeus, e ela cheira a pano de chão<br />2-fecho as mãos em concha para limitar a luz, a fim de que eu possa penetrá-la<br /><br /></span></span>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-33189068273045431342007-03-27T11:36:00.000-07:002008-01-13T16:23:24.673-08:00As aleluias<div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Quando te conheci<br />era a época das aleluias<br />e parecia que cada pessoa, cada rosto<br />fazia seu baile ao redor da luz<br /><br />Eu colhia em sua blusa<br />restos cintilantes,<br />pequenas noites francesas<br />que amanhecem feito perfume no ar<br /><br />As aleluias desciam, uma a uma,<br />tal estrelas cadentes<br />prenhas de vida que se desenha<br /><br />A cada queda, um pedido atendido.<br />O mundo tinha cores mais fortes,<br />você me apertava e abraçava bem-bom<br /><br />Subiam por sua pele todos os animais<br />A gente se encostava, se lambia e ria<br />Você contando histórias em disparada,<br />com fome de meus segredos,<br />me divertindo, encantando<br /><br />Nossa alegria quase chorava!<br />Ela, que entrava invisível por todas as frestas,<br />principalmente a partir das seis da tarde,<br />quando era a saudade,<br />e apressada, festiva,<br />vinha enfeitar nosso corpo de febres<br /><br />Eu, casa iluminada por sóis maduros.<br />E quando você dizia, a sério,<br />sentir-se pleno, feliz,<br />ficava meio tonta: 'feliz natal!',<br />e nem era neve; 'feliz aniversário!',<br />sem notar tão distantes as cidades,<br />nossa coragem e o mês de fevereiro.</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Só sabia que eram dias de aleluias.<br />E o seu quarto era crescente samba.</span></div>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com54tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-16574854284822048022007-03-27T11:29:00.000-07:002008-01-13T16:25:43.497-08:00Um dia comum<div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">para Bia Castro<br /><br /><br />Um gato passou entre minhas pernas com sua escuridão. Na sala estavam os interiores de um pombo. Assustaram-me um pouco.<br />Cheguei mais perto para observar seus olhos: a centelha dos selvagens ainda estava lá. Aproveitei para respirar o viço verde de florestas.<br />Acendi as luzes de toda a casa. Era a luz que acentuava as outras cores e delimitava o preto.<br /><br />As clareiras:<br /><br />1-Apesar de tudo, eram quase imperceptíveis os alívios da lâmpada elétrica, mas eu não gostaria de viver sem elas.<br />2-O meu sexo: parecia-me guardar ali uma certeza de encontro e um brilho particular para amor ou uso. Mas eu não saberia <em>quem</em> usaria <em>quem</em> e quem é uma palavra para <em>alguém</em>.<br />3-Nunca soube a diferença entre alma e coração e não me agradava pensar em alma como atributo do pensamento. E nem como espírito, espírito podia ser fantasma, e eu tinha medo de fantasmas.<br />4-O olho do meu gato: ele provava o prazer da abstração. Era definitivo e cuidaria de mim, a despeito de qualquer surpresa. O gato era minha filosofia, meu sossego. Também eu cuidava dele e pedia que a melhor ração lhe fosse oferecida, em nome de nosso profundo entendimento e afeto.<br />5-Eu poderia subir, rodar e descer entre tecidos, como um gato humano, conhecendo distâncias e proximidades, brincando com tudo o que meu corpo me deu. Não estava sozinha nisso: além de mestres, eu tinha amigas, amigos, e algumas pessoas paravam para ver o desafio e a alegria de lidar com ele. Depois se contentavam com a poesia daquela imagem.<br /><br />Entre todas as minhas lembranças, algumas estão em meu relatório de riquezas do olhar:<br /><br />1-A conjunção entre as noites e os dias (já foi a um observatório? a gente vive sob gigantes que não nos pedem nada);<br />2-As sombras e as luzes (os gatos ensinam isso muito bem e o sol é uma percepção a partir do espaço ou uma moeda antiga).<br /><br />Isolada aqui neste quarto de computador procuro por você, meu amigo. Meu pai e a namorada acham que me quer, mas não acredito. Enquanto me concentro lendo as mensagens, o riso e a dor me rondam, e ambos estão a uma mesma distância da minha cadeira. Funcionam como um leque espanhol com o qual me abano serenamente, pois onde moro faz calor, e, à noite, chove sem novidade ou prisão.<br />Levanto-me para buscar um copo d'água e dou de cara com meu pai. Ele me abraça, sorri, conversamos e tomamos um café. A vida é boa porque é simples, não a conhecemos e estamos aqui.<br /><br />Minha gata retorna e percebo que sente fome, apesar de seu silêncio impecável e uma maneira luminosa de ser preta como a noite de uma cidade que não tem fim em nós.<br /></div></span></span>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-2047191023924092327.post-43955626243062370302007-03-27T11:13:00.000-07:002008-01-13T16:30:37.852-08:00Finis<div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">É rapidinho. Assim, deixa eu te contar:</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Primeiro uns dias sem respostas para a pessoa se tocar. Como a pessoa não quer se tocar nem fudendo, ela acaba te ligando. Daí você atende e diz que a ama, que está com muita saudade, que assim que rolar a grana se pica pra cama dela, e que o coração vai junto, aos trancos (a parte do coração é apenas o desejo dela, você só disse que chega na cidade onde ela, por hora, está).</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Depois, caso ela consiga ser ainda mais insistente (é, as mesuras do amor, quando não estamos apaixonados, resultam em saco cheio, boca torta ou tédio), você diz logo:<br />'Aí, gata, acabou. Dei uma nadadinha nos meus ocasos, experimentei o trapézio para fazer jus ao meu maior amor, olhei bem sua foto e desisti. Pensei: Isso não vai prestar. E peço que me ligue no celular para eu partir seu coração . '</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A tipa, horrivelmente repetitiva:<br />'E ao menos vou aí dizer tchauzinho, meu sangue?' </span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">O esperto:<br />'Ah, talvez, quem sabe um dia que não se marque nem aconteça, <em>amiga</em>. Sinta-se à vontade.' (enquanto pensa: hahahahah)</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Ela:<br />'Ah, tá. E... bem, então vou agonizar ali no mictório do poeta um instantezinho e depois faço um aborto. Nada significativo. Vai ser como tirar o pirulito da boca da ninfeta. Só isso. E... Você tá com Aids, né ?' </span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O homem maduro, um verdadeiro cientista:<br />'Quaquaraquaquá, não! Mas tenho a enfermidade que te falei.'<br /></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span> </div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">A chata:<br />'A enfermidade?'<br /></div></span><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Ele:<br />'É, isso é sério. Pode ser isso. Mas na verdade é porque eu quero deslizar, entendeu? <em>Des-li-zar</em>!!! Eu só ando de patins, <em>honey</em>! Minha coragem entupiu a pia, agora é morta. A intensidade eu perdi no armário de uma vadia. Linda! Mas ficou por lá.'</span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">A irritante: (mas agora, você, leitor, não a julgue, porque era o mais sincera que podia):<br />'Me dá uma boa noite?'</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">(o coração envelhece)</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">é porque eu achei que ia ver deus, esperei por isso anos a fio. O papai noel já era parte do caminho, não acha? E daí o porre do vulgar enrabou minhas delícias. Um estupro e meio, um desses crimes que a justiça cega passou e não viu.'</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Ele:<br />'Ahahahahhhaaaa, como você é engraçada, estúpida! Ah, não foi um fora, eu só quero que saia daqui. Vê se some, minha pérola (ele não chamaria aquela ali de pérola, já tinha esquecido os olhos dela e estava preocupado com outras questões, quais sejam, o custo da picanha ou da chã), até eu descansar. Mas apareça, a gente se fala, juro. Gosto de você, sou seu amigo, o problema é comigo (e todas aquelas coisas, obrigada, mas as <em>minhas</em> questões estão em outro tipo de, digamos, sensibilidade).</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Nada disso importa, na verdade. O legal é que foi rapidinho, tipo assim, arrancar um olho, sem dificuldade, depois de cortar o que prende a órbita ao lado de dentro. Maestria!! <em>Ah, não pense que somos uns monstros ...</em></span></div>Izabel Xarruhttp://www.blogger.com/profile/07457189156435992405noreply@blogger.com19