terça-feira, 27 de março de 2007

Finis

É rapidinho. Assim, deixa eu te contar:

Primeiro uns dias sem respostas para a pessoa se tocar. Como a pessoa não quer se tocar nem fudendo, ela acaba te ligando. Daí você atende e diz que a ama, que está com muita saudade, que assim que rolar a grana se pica pra cama dela, e que o coração vai junto, aos trancos (a parte do coração é apenas o desejo dela, você só disse que chega na cidade onde ela, por hora, está).

Depois, caso ela consiga ser ainda mais insistente (é, as mesuras do amor, quando não estamos apaixonados, resultam em saco cheio, boca torta ou tédio), você diz logo:
'Aí, gata, acabou. Dei uma nadadinha nos meus ocasos, experimentei o trapézio para fazer jus ao meu maior amor, olhei bem sua foto e desisti. Pensei: Isso não vai prestar. E peço que me ligue no celular para eu partir seu coração . '

A tipa, horrivelmente repetitiva:
'E ao menos vou aí dizer tchauzinho, meu sangue?'

O esperto:
'Ah, talvez, quem sabe um dia que não se marque nem aconteça, amiga. Sinta-se à vontade.' (enquanto pensa: hahahahah)

Ela:
'Ah, tá. E... bem, então vou agonizar ali no mictório do poeta um instantezinho e depois faço um aborto. Nada significativo. Vai ser como tirar o pirulito da boca da ninfeta. Só isso. E... Você tá com Aids, né ?'

O homem maduro, um verdadeiro cientista:
'Quaquaraquaquá, não! Mas tenho a enfermidade que te falei.'
A chata:
'A enfermidade?'
Ele:
'É, isso é sério. Pode ser isso. Mas na verdade é porque eu quero deslizar, entendeu? Des-li-zar!!! Eu só ando de patins, honey! Minha coragem entupiu a pia, agora é morta. A intensidade eu perdi no armário de uma vadia. Linda! Mas ficou por lá.'

A irritante: (mas agora, você, leitor, não a julgue, porque era o mais sincera que podia):
'Me dá uma boa noite?'

(o coração envelhece)

é porque eu achei que ia ver deus, esperei por isso anos a fio. O papai noel já era parte do caminho, não acha? E daí o porre do vulgar enrabou minhas delícias. Um estupro e meio, um desses crimes que a justiça cega passou e não viu.'

Ele:
'Ahahahahhhaaaa, como você é engraçada, estúpida! Ah, não foi um fora, eu só quero que saia daqui. Vê se some, minha pérola (ele não chamaria aquela ali de pérola, já tinha esquecido os olhos dela e estava preocupado com outras questões, quais sejam, o custo da picanha ou da chã), até eu descansar. Mas apareça, a gente se fala, juro. Gosto de você, sou seu amigo, o problema é comigo (e todas aquelas coisas, obrigada, mas as minhas questões estão em outro tipo de, digamos, sensibilidade).

Nada disso importa, na verdade. O legal é que foi rapidinho, tipo assim, arrancar um olho, sem dificuldade, depois de cortar o que prende a órbita ao lado de dentro. Maestria!! Ah, não pense que somos uns monstros ...

19 comentários:

Unknown disse...

As palavras tb são feitas de nossas tripas,
As tripas têm sua verdade.
Adoro esse texto.

Anônimo disse...

Bacana seus textos, você escreve bem! Sempre que escrever algo novo, pode me dar o toq que terei muito prazer em lê-los! Um grande abraço!

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Que coisa boa ler coisa boa assim!

Anônimo disse...

É um verdadeiro esquizo texto, posso garantir. Não sei bem o motivo mas me lembrou Clarice.

Anônimo disse...

achei que faltou cor po

Anônimo disse...

Belzinha!!!Meiga, sensível, inteligente e escreve como um trator. rs. Só um texto, fia?

Anônimo disse...

você é brava pra escrever mas faz pensar. quero ler mais...

Anônimo disse...

Ácido, irreverente, risonho. Vai bem pela via da arte! Parabéns!

Anônimo disse...

O texto é bom demaaaaaais, meu! Vou voltar sempre.

Anônimo disse...

todo o zelo ficou pra trás...

Anônimo disse...

É, as relações humanas são assim (quando não de outro jeito): todas interrompidas. Fodamos entre el coito e o (des)embaraço. Beijo

Anônimo disse...

A dor estimula a parte que o poeta brilha.O brilho ofusca o que a dor quer dominar. O Sol reflete o suspiro que o espelho não consegue transmitir, mas tá frio agora...

Anônimo disse...

afinal, um texto seu é mais do que eu pensei. o teor é outro, a densidade tb. mto bom, gostei da dinâmica, da crueza, e vc é bem talentosa.

Anônimo disse...

Muito, muito bom!!! O texto tem um desenvolvimento sinfônico, onde cada pequeno detalhe tem um papel importantíssimo! Parabéns Izabel!!! Já acreditava no seu talento mesmo sem ter lido muita coisa sua. e vamos add aos favoritos... bjão!

Anônimo disse...

adorei! que viagem!!! quero ler mais vc...

Anônimo disse...

Putz! É ele quem conta! Boa essa, só na segunda leitura percebi!!! Tô mesmo viciada no ângulo mulherzinha...

Anônimo disse...

Sinto femininamente esse engano, que aqui alimenta a beleza ao virar um texto delicioso, especialmente pra quem lê com dor. Saborear com a narradora, bem sadicamente, essa dor humana, alivia a minha! Doer bonito é muito melhor! Vc escreve bem pacas, já tinha lido um trecho seu. Obrigada pelo convite, voltarei. Beijos.

Anônimo disse...

comente com mente sem mente semente tá plantado, finalmente, né? desmente a mim, agora, que te disse que vc não saía em seu favor. agoramente bom te ler aqui tb.