terça-feira, 27 de março de 2007

Ponto de vista

Outro dia surpreendi uma mulher com um trinado de intensidade. Ela não achou que meu signo tinha a ver com o dela, não gostou. Talvez uma questão de grafia, de geografia. Algum desastre em campo semântico?

Intenso, tá. Ela pensava que estava mais para extenso, ex tenso, e ia nisso de cenho franzido, sem peito para bater. Na porta.

Ela falava do raio de um homem. No caso, eu. Já imaginou o raio, o diâmetro daquele ventre que diminuía, como tudo o mais? E ela se perdendo na liberdade que tem qualquer pensamento de ir folheando desvãos. O que é? Armazena poses, gases, ilhas? Nada, nada, acho que são águas de indiferença, e não alcanço. Entre a perversidade e dias contados. Dor.

Um, dois, mil, cem. Dias. Saco. Onde está a corda? Quando vai ser puxada a maldita corda sem data?

Tédio, risada, ausência, ansiedade, festa, desespero, sexo, morte, tudo morando no mesmo barraco, vou lavando no mesmo tanque aquela antigüidade culposa de quem tem, ou supõe que tem imenso tempo a se dispor, amável, enquanto eu, favela de vias estreitas, muros podres, me banho na enseada de excessos que não, não me, não, SIM...! Acha que é fácil? Acha que dá pra se fiar em conclusões?

Quantas pessoas atiradas naquela cama, bel-prazer, vinil francês, para que fosse experimentada a morte nos olhos (assim) penetrados? É, são meus ensaios, quer me dizer algo sobre isso? Acha que a mágoa é só sua, né, nega? Ou então que sou alguma espécie de super-star literário. Quem sabe?

Agora tento tocar as extremidades do silêncio como quem toca entranhas de pessoas, e alcança o que mede, indo até os cotovelos, se pudesse entrava com cabeça e mais, ah, cabeça que não me deixa, não pára o que pensa, não cessa, não pensa dentro de você e te alcança o coração, minha querida, não dorme.

Prenhe às avessas, espero a grande chaga de tudo, aquela que já faz parte do meu café com bolo de chuva, da ordem dada à empregada em guizo monocórdio, da deusa-filha que me vê, mesmo sem pousar olhar, dos finais de semana quase científicos, das esporas de fazer andar os animais, do eu te amo e eu te coiso, vida, em eu vazio tudo dentro e fora, cava de despedida, no que se evita, à cata de cada vez mais inviáveis conjunções de sentidos para

abrir, OLHOS

e, num ponto do todo, ou seja, no inverossímil, como o que há, poeira estelar, em plena noite, luz de gigantes nas rotas do magnético: a filha, estrada inteira e única de reversão, me olha, devolvendo-me as duas palavras - amor e depois. Isso tudo. Enquanto terno.

8 comentários:

Anônimo disse...

Muito difícil esse seu texto, vou tomar um epoclair pra facilitar a digestão... Saudade do conde drácula! Por aqui só uso palavras pra tampar o silêncio

Anônimo disse...

Para quem se queixava de sofrer de estalos do lado de dentro da nuvem e não aceitou um chocolate crocante para estiar o trovão endógeno, o fez tão-só porque sabia que, mais à frente, após o arco-íris tolo que infantiliza o foco, poderia se sentar à sombra de um texto dotado de contornos lispectorianos. Um discurso destes inicia-nos ao desentranhamento de acontecimentos e experiências intimistas que não cabem numa só linguagem, numa só margem. RW. ~B^)

Anônimo disse...

Bel, eu acabei comentando por lá, né?! Mas ficou faltando eu dizer que nesse, e também em outros textos, vc me remete à Caio Fernando Abreu. Que honra, hein?! E talvez seja por que eu o ame assim, confessional, em linguagem moderna, sintético, entrecortado, e que consegue me proporcionar uma identificação onde não há qualquer similaridade aparente, mas toda ela está lá, inegável.

Anônimo disse...

Eita! E tudo isso... sem essa crase metida aí! hehe

Anônimo disse...

bel não entendi nada, mas consegui sentir centelhas de vácuo na sua mente inquieta...As cores ficam mais vibrantes quando se misturam ao sangue-suor...

Anônimo disse...

Oi, Izabel, vim conhecer seu espaço, bem legal. Um texto bacana, seguro, cheio de meandros, estilo..valeu mesmo Um beijo.

Anônimo disse...

Cara, tua escrita tá bem afiada e seu blog muito bom.

Anônimo disse...

Oi, Isabel! Sou a Jacqueline, dos cafés da manhã na pousada Alamoa. Tudo bem? Eu ainda segui minha viagem pelo Rio Grande do Norte e voltei sábado para São Paulo. Eu ainda não tenho um blog, sou uma jornalista que escreve pouco atualmente... Passei por aqui pra dizer um oi, gostei do texto que abre -durma com um barulho desse-. Tá meio tarde mas depois eu volto pra ler com mais calma. Espero que também tenha aproveitado as férias. Beijos